Poucos jogadores na história recente do Flamengo tiveram uma relação tão complexa e intensa com a arquibancada. Amado por todos os seus treinadores, mas por anos o principal alvo das críticas da torcida, Willian Arão não foi um ídolo consensual. No entanto, sua história é a prova definitiva de que a resiliência, a inteligência tática e o trabalho silencioso podem calar qualquer corneta. Ele foi o "para-raios" que se transformou em pilar, o "patinho feio" que virou peça fundamental na conquista de todos os títulos da nossa era mais vitoriosa.
A Chegada Polêmica e a Relação de Amor e Ódio
Willian Arão chegou ao Flamengo em 2016 de forma polêmica. Após ser o grande destaque do Botafogo no título da Série B de 2015, ele optou por não renovar com o rival e acertou com o Mengão, em um "chapéu" que gerou grande repercussão. Desde o início, mostrou suas qualidades: a impressionante chegada como "elemento surpresa" na área e o faro para gols de cabeça.
Contudo, por várias temporadas, Arão se tornou o principal "para-raios" da equipe. Em um time que "batia na trave" e acumulava frustrações, ele era frequentemente o jogador mais criticado pela torcida por supostas falhas de marcação ou erros de passe. Mesmo sendo titular absoluto com praticamente todos os treinadores, a desconfiança da Nação era uma sombra constante.
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A Revolução de Jorge Jesus: A Transformação em Pilar
Tudo mudou em 2019 com a chegada de Jorge Jesus. O técnico português operou a transformação mais importante da carreira de Arão. Ele recuou o jogador, transformando o segundo volante que subia ao ataque em um primeiro volante clássico, o protetor da zaga.
Nessa nova função, Arão floresceu. Sua inteligência tática, sua capacidade de leitura de jogo e sua força na bola aérea se tornaram a âncora defensiva que permitia ao time atacar com aquela força avassaladora. De jogador questionado, ele se tornou uma peça absolutamente indispensável e inquestionável. A torcida, enfim, passou a reconhecer sua imensa importância.
O Coringa Tático: De Volante a Zagueiro
A capacidade de adaptação de Arão foi provada mais uma vez em seus anos finais de clube. Com a necessidade do elenco, técnicos como Rogério Ceni o reinventaram novamente, desta vez como zagueiro. E, mais uma vez, ele se destacou, mostrando uma qualidade e uma leitura de jogo na nova posição que prolongaram sua carreira como titular. Essa polivalência foi a marca de sua inteligência.
Um Legado de Títulos e Resiliência
Willian Arão deixou o Flamengo em 2022 para se juntar novamente a Jorge Jesus no Fenerbahçe, da Turquia. Ele saiu não como o jogador criticado de antes, mas como um ídolo respeitado e um dos atletas mais vitoriosos da história do clube. Ele esteve presente em TODAS as grandes conquistas da Geração de Ouro:
Libertadores: 2019 e 2022
Brasileirão: 2019 e 2020
Copa do Brasil: 2022
...além de Supercopas, Recopas e estaduais.
Seu legado é o da resiliência. A história do jogador que aguentou as críticas, confiou em seu trabalho e esperou o momento certo para mostrar a todos o seu valor, tornando-se uma peça fundamental na maior era de glórias da nossa história recente.