Existem anos que entram para a história. E existe 2019. Um ano que, para a Nação Rubro-Negra, transcendeu o futebol e se tornou um estado de espírito, uma memória coletiva de perfeição. Foi o ano de uma revolução tática, de uma conexão simbiótica entre time e torcida e de um fim de semana em que o Flamengo conquistou a América e o Brasil em menos de 24 horas. Marcado pela chegada de um "Mister" que mudou tudo e por um time que jogava por música, 2019 foi o ano em que o Flamengo, finalmente, atingiu o "outro patamar".
O Início Incerto e a Chegada do "Mister"
O primeiro semestre de 2019 foi de sentimentos mistos. O clube havia feito contratações de peso, como Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol, e conquistou o Campeonato Carioca sob o comando de Abel Braga. No entanto, o futebol não encantava, e a classificação na fase de grupos da Libertadores foi conquistada com dificuldade. Pairava no ar a sensação de que aquele elenco estelar poderia render muito mais. Em meio a esse cenário, e marcado pela maior tragédia da história do clube, o incêndio no Ninho do Urubu, o Flamengo precisava de uma mudança.
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E ela veio em junho de 2019. Em uma aposta ousada, a diretoria trouxe o técnico português Jorge Jesus. A chegada do "Mister" foi o ponto de virada. Com ele, desembarcaram não apenas reforços de peso como Rafinha, Filipe Luís, Gerson e o zagueiro espanhol Pablo Marí, mas também uma filosofia de jogo completamente nova para o Brasil: pressão alta, intensidade máxima, uma linha de defesa adiantada e um volume ofensivo avassalador.
O "Rolo Compressor": A Dominância Absoluta no Brasil
O impacto de Jorge Jesus no Campeonato Brasileiro foi imediato e devastador. O Flamengo se transformou em um "rolo compressor". A equipe não apenas vencia; ela dava espetáculo, com goleadas memoráveis e um futebol que encantava até os rivais. A campanha do Heptacampeonato (ou Octa, para a Nação) foi uma coleção de recordes:
Maior pontuação: 90 pontos.
Melhor ataque: 86 gols.
Maior número de vitórias: 28.
Artilheiro: Gabigol, com 25 gols.
O Maracanã se tornou um caldeirão onde os adversários eram sistematicamente amassados, e a frase "outro patamar", dita pelo jogador Bruno Henrique, virou o slogan perfeito para descrever a superioridade daquele time.
A Conquista da América: A Epopeia da Libertadores
Paralelamente ao domínio nacional, o Flamengo trilhava um caminho épico na Libertadores. Nas oitavas, reverteu uma derrota de 2 a 0 para o Emelec com uma vitória de mesmo placar no Maracanã e classificação nos pênaltis. Nas quartas, passou pelo Internacional. A semifinal, contra o Grêmio, foi o auge da performance em casa. Após um empate em 1 a 1 no Sul, o Flamengo aplicou um histórico e inesquecível 5 a 0 no jogo de volta, em uma das maiores atuações coletivas da história do Maracanã. O Flamengo estava na final.
23 e 24 de Novembro: O Fim de Semana que Parou o Mundo
O que aconteceu naquele fim de semana de novembro entrou para o folclore do futebol mundial.
Sábado, 23 de novembro: A final da Libertadores em Lima, contra o poderoso River Plate, da Argentina. O jogo foi tenso, difícil. O Flamengo perdia por 1 a 0 até os 43 minutos do segundo tempo. A taça parecia perdida. Então, o predestinado apareceu. Gabigol, em um lapso de três minutos, marcou aos 89 e, no gol do título, aos 92. A virada mais improvável e emocionante da história das finais. Após 38 anos, a América era, mais uma vez, Vermelha e Preta.
Domingo, 24 de novembro: Menos de 24 horas depois, enquanto o time ainda celebrava em Lima, o Palmeiras perdeu para o Grêmio no Brasileirão. O resultado matemático deu ao Flamengo o título do Campeonato Brasileiro sem que o time precisasse entrar em campo. Em um único fim de semana, o Flamengo conquistou a América e o Brasil. A festa que tomou conta das ruas do Rio de Janeiro na recepção dos heróis foi uma das maiores manifestações populares da história da cidade.
O Legado do "Ano Mágico"
A temporada ainda terminaria com uma atuação digna no Mundial de Clubes, perdendo a final por 1 a 0 na prorrogação para o Liverpool, mas jogando de igual para igual. O ano de 2019 não deixou apenas troféus. Deixou um legado. O time de Jorge Jesus elevou o padrão de excelência, mostrou que era possível aliar gestão financeira a um futebol avassalador e, acima de tudo, reacendeu na Nação Rubro-Negra a certeza de que seu lugar é no topo.