Ele era a classe em forma de jogador. Canhoto, polivalente, de uma inteligência rara, Leonardo Nascimento de Araújo foi um dos maiores "Crias da Gávea" de sua geração. O herdeiro natural do Maestro Júnior, campeão pelo Flamengo, campeão do mundo pela Seleção, ídolo na Europa. Sua trajetória era a de um ídolo incontestável. No entanto, o tempo e a distância transformaram a admiração em uma fria indiferença. A carreira de Leonardo como um poderoso executivo europeu e, principalmente, como um analista crítico na televisão, criou um abismo entre ele e a Nação, deixando a amarga sensação de que o filho pródigo não apenas nunca voltou, como parece ter esquecido o caminho de casa.
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A Glória: O Sucessor do Maestro e o Menino de Ouro da Gávea
Leonardo surgiu no final dos anos 80 como um raio de pura técnica. Inicialmente lateral-esquerdo, sucessor de Júnior, ele demonstrava uma qualidade tão absurda que logo passou a atuar também no meio-campo. Foi peça-chave nas conquistas da Copa do Brasil de 1990 e do Campeonato Brasileiro de 1992. Seu talento era tão evidente que, após brilhar no São Paulo, o mundo se tornou seu palco, com passagens vitoriosas por PSG e, principalmente, Milan, onde virou uma lenda. O auge veio com a conquista da Copa do Mundo de 1994 com a Seleção Brasileira.
A Ruptura: A Frieza do Executivo e a Distância do Comentarista
A ruptura de Leonardo com a Nação não foi um ato de traição, como a ida para um rival. Foi um processo lento e gradual de distanciamento, consolidado por suas palavras e atitudes.
O Homem da Europa: Após se aposentar, Leonardo se tornou um dos executivos de futebol mais poderosos do mundo, com cargos de direção no Milan e no PSG. Ele se tornou uma figura europeia, global, e em suas raras menções ao futebol brasileiro, parecia falar de uma realidade distante, quase inferior.
O Comentarista "Isento": O ponto de maior atrito, no entanto, foi sua atuação como comentarista esportivo. A Nação, que esperava ver um ídolo defendendo as cores do clube ou, no mínimo, demonstrando um carinho especial, encontrou um analista frio, calculista e, por vezes, excessivamente crítico com o Flamengo. Ele analisava o clube que o revelou com a mesma isenção com que falaria de um time estrangeiro qualquer. Para a torcida, essa postura não era profissionalismo; era frieza, era a falta do sentimento de pertencimento que se espera de um ídolo.
O Legado de um Estranho no Ninho
Diferente de Zico, Júnior ou até mesmo Zinho, que mantiveram seus laços com a Gávea, Leonardo se tornou um "estranho no ninho". Sua história é a do filho que conquistou o mundo, mas que, no processo, parece ter se esquecido de suas raízes. A Nação se orgulha de ter revelado um talento tão imenso, mas lamenta que a admiração pelo craque não possa mais ser acompanhada do calor da idolatria, perdida em algum lugar entre as salas de reunião de Milão e os estúdios de televisão.