Ele era a inteligência, o passe preciso, o motor tático. Crizam César de Oliveira Filho, o Zinho, foi um dos mais brilhantes "Crias da Gávea" do final dos anos 80 e início dos 90. Com seu estilo de jogo único, que lhe rendeu o injusto apelido de "Enceradeira", ele foi um dos pilares do Penta de 92 e campeão do mundo com a Seleção. Era um ídolo com lugar garantido no coração da Nação. No entanto, sua trajetória o levou a se tornar o capitão e símbolo de um grande rival nacional, e seu retorno tardio à Gávea, sem o brilho de antes, selou uma relação de respeito, mas com o encanto da idolatria quebrado
A Glória: O Enceradeira do Pentacampeonato
Zinho não era um jogador de dribles plásticos ou gols espetaculares. Sua genialidade era cerebral. Ganhou o apelido de "Enceradeira" por sua característica única de proteger a bola, girando sobre o corpo e mantendo a posse até encontrar o passe perfeito. Como meia-esquerda, foi uma peça fundamental no time campeão brasileiro de 1992, sendo o principal "garçom" daquele elenco. Seu talento, forjado no Ninho, o levou à Seleção Brasileira, onde foi titular absoluto na conquista da Copa do Mundo de 1994.
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A Ruptura: O Capitão de um Grande Rival
Após a Copa de 94, Zinho deixou o Flamengo e, após uma passagem pelo Japão, acertou com o Palmeiras. E aqui reside o ponto central da ruptura. Ele não foi apenas mais um jogador no time paulista; ele se tornou o capitão e o símbolo da era Parmalat, um dos maiores e mais ricos rivais do Flamengo naquela década. Ver um "Cria da Gávea" erguendo taças, liderando e personificando um adversário direto em disputas nacionais foi um golpe duro para a Nação. A identificação dele com a camisa alviverde, seguida por passagens vitoriosas também por Grêmio e Cruzeiro, o transformou em um grande jogador do futebol brasileiro, mas o distanciou para sempre de sua identidade rubro-negra original.
O Retorno Melancólico: Tarde Demais e Sem o Status de Ídolo
Diferente de outros que nunca voltaram, Zinho teve sua segunda chance. Em 2004, já com 37 anos, ele retornou ao Flamengo. Mas o cenário era completamente diferente. O Zinho que voltou não era mais o craque campeão do mundo, mas um jogador veterano, em final de carreira.
O Flamengo daquela época também era outro: um time que lutava contra o rebaixamento, com um elenco limitadíssimo. Sua volta não foi a de um herói para liderar um projeto vitorioso, mas a de um antigo ídolo tentando ajudar em um momento de desespero. Suas atuações foram fracas, reflexo natural da idade, e ele já não tinha mais o status de ídolo. Aquele retorno, em vez de reaproximá-lo da torcida, apenas confirmou que o tempo havia passado e que o encanto havia se perdido no caminho.
O legado de Zinho é o de um dos meias mais inteligentes de sua geração, um campeão por onde passou. Mas para a Nação, sua história é a do "menino de ouro" que, ao se tornar rei em outros reinos, perdeu a chance de ter um trono eterno em sua própria casa.