88 minutos de angústia. Um sonho de 38 anos se esvaindo a cada segundo que o relógio insistia em correr. No banco, um "Mister" incrédulo. Na arquibancada do Estádio Monumental de Lima, uma Nação em silêncio apreensivo, esperando o pior. E então, em 180 segundos, o futebol mostrou por que é o esporte mais apaixonante e imprevisível do planeta. A final da Copa Libertadores de 2019 contra o River Plate não foi um jogo; foi um roteiro de cinema sobre desespero, fé e a redenção apoteótica de um herói predestinado.
O Palco dos Gigantes e um Banho de Água Fria
A primeira final única da história da Libertadores colocou frente a frente os dois melhores times do continente. De um lado, o Flamengo de Jorge Jesus, um rolo compressor ofensivo que encantava o Brasil. Do outro, o River Plate de Marcelo Gallardo, o atual campeão, um time copeiro, taticamente perfeito e acostumado a decisões.
O Flamengo entrou em campo como favorito, mas o que se viu foi um banho de água fria. Logo aos 14 minutos, após uma rara falha defensiva, o atacante Borré abriu o placar para os argentinos. O gol atordoou o time rubro-negro.
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A Armadilha de Gallardo: 88 Minutos de Agonia e Frustração
O que se seguiu ao gol foi uma aula tática de Marcelo Gallardo. O River Plate executou um plano de jogo perfeito, neutralizando os pontos fortes do Flamengo. Arrascaeta não encontrava espaços, Everton Ribeiro era vigiado de perto, e a dupla Gabigol e Bruno Henrique parecia isolada. O time de Jorge Jesus, acostumado a amassar seus adversários, não conseguia criar.
A bola não entrava. O tempo passava, e com ele, a esperança da Nação diminuía. A câmera focava nos rostos tensos dos torcedores, o sonho da América, tão perto, parecia destinado a morrer na praia mais uma vez. A agonia se estendeu por 88 longos e torturantes minutos.
Três Minutos para a Eternidade: A Virada que Desafia a Lógica
Quando tudo parecia perdido, a história decidiu mudar de rumo. E ela escolheu um protagonista.
Aos 89 minutos: Bruno Henrique, incansável, faz uma jogada de pura força pela esquerda e cruza para o meio. Arrascaeta, com um toque de gênio, ajeita a bola para o meio da pequena área. E lá estava ele. Gabigol. Com o gol livre, ele só empurra para o fundo da rede. 1 a 1. O que era desespero se transforma em alívio e esperança. O jogo iria, ao menos, para a prorrogação.
Mas o predestinado não estava satisfeito.
Aos 92 minutos: Um lançamento longo de Diego Ribas. O zagueiro Pinola falha de forma grotesca. A bola sobra limpa. Para ele. Gabigol. Ele ajeita o corpo e, com a canhota que o consagrou, fuzila o goleiro Armani. A rede estufa. 2 a 1. É a virada. O impossível. O estádio explode em um som ensurdecedor de êxtase rubro-negro. Jogadores, comissão técnica, torcedores, todos em prantos, em um delírio coletivo.
O Apito Final e a Coroação de uma Geração
Os segundos finais, com a expulsão de Gabigol, foram um detalhe. Quando o árbitro apitou o fim do jogo, o Flamengo, após 38 anos de espera, era mais uma vez campeão da Copa Libertadores da América. Aquele não foi apenas um título. Foi o exorcismo de fantasmas, a coroação de uma geração mágica e a prova definitiva de que, com o Manto Sagrado, não se pode duvidar até o último segundo. Foi o dia em que um time e uma torcida tocaram, juntos, a Glória Eterna.