Flamengo e Fio Maravilha, o Herói de uma Canção: A História do Gol que Imortalizou um Ídolo

 O que faz um ídolo? Títulos? Centenas de gols? Uma técnica apurada? Ou um único momento de magia pura, capaz de inspirar um poeta na arquibancada? Para João Batista de Salles, a resposta é a última. Atacante do Flamengo no final dos anos 60 e início dos 70, ele não era um craque clássico, mas seu carisma e um gol abençoado o transformaram em Fio Maravilha, um dos xodós mais queridos e folclóricos da Nação Rubro-Negra. Esta é a história de como um gol desengonçado e a genialidade de Jorge Ben Jor criaram um herói improvável e eterno.

O "Anjo Torto" e a Conexão com a Arquibancada

Fio Maravilha não era um jogador de futebol convencional. Era descrito como um "anjo de pernas tortas", com um estilo desengonçado, mas com uma grande dedicação em campo. Ele não era um artilheiro implacável, mas tinha uma conexão especial com a torcida. A Nação o via como um representante do povo, um jogador que, mesmo com suas limitações, jogava com o coração. Essa identificação era tão forte que, mesmo no banco de reservas, seu nome era frequentemente gritado pelas arquibancadas do Maracanã.

O Gol de Placa: 15 de Janeiro de 1972

A carreira e a vida de Fio mudariam para sempre em um amistoso de início de ano contra o poderoso Benfica, de Portugal, no Maracanã. O jogo estava em andamento, e a torcida, em um coro uníssono, começou a pedir ao técnico Zagallo: "Zagaaaaaallo, bota o Fio! Bota o Fio!". O Velho Lobo atendeu.

Aos 33 minutos do segundo tempo, a magia aconteceu. Fio Maravilha recebeu a bola na entrada da área. O que se seguiu foi imortalizado na música:

"Driblou o zagueiro, tabelou, driblou o goleiro... Só não entrou com bola e tudo porque teve humildade e gol!"

Não foi o gol mais bonito da história do estádio, mas foi um gol de raça, de fé, de pura alegria popular. Um gol que atendeu ao clamor da arquibancada. E naquela arquibancada, havia um espectador especial.

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"Fio Maravilha, Nós Gostamos de Você": A Música que Eternizou o Herói

Naquela tarde no Maracanã estava o gênio da música Jorge Ben Jor. Inspirado pela cena que acabara de presenciar – a torcida pedindo, o jogador entrando, o gol acontecendo – ele compôs, ali mesmo, a canção que se tornaria um dos maiores sucessos de sua carreira e um hino informal da alegria do futebol. A música "Fio Maravilha" explodiu nas rádios e transformou o jogador em uma celebridade nacional.

Anos mais tarde, a história teve um capítulo controverso, quando Fio processou Jorge Ben pelo uso de seu nome, forçando o compositor a mudar a letra para "Filho Maravilha". Felizmente, os dois se reconciliaram, e Fio admitiu o arrependimento, permitindo que a canção voltasse à sua letra original e imortal.



O Legado de um Ídolo Improvável (e Irmão de um Artilheiro)

Fio Maravilha é um caso único no futebol. Um jogador cujo status de ídolo foi construído e eternizado muito mais por uma canção do que por seus feitos em campo. Ele representa a magia do Maracanã, a voz da torcida e a prova de que um momento de glória pode valer por uma carreira inteira.

E como uma curiosidade final que só o futebol pode proporcionar, Fio Maravilha é o irmão mais velho de ninguém menos que Nunes, o "Artilheiro das Decisões", herói do Mundial de 81. Dois irmãos, dois atacantes, cada um a seu modo, com seu nome gravado para sempre na história do Flamengo.

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