Poucos jogadores na história do futebol podem se orgulhar de terem sido os melhores do mundo em sua posição, brilhar na Europa e, anos depois, retornar ao clube de origem para, já veterano, liderá-lo a um grande título nacional em uma nova posição. Leovegildo Lins da Gama Júnior não é um desses poucos. Ele é único. Com uma classe atemporal, uma inteligência rara e um amor pelo Flamengo que transbordava em cada toque na bola, Júnior foi o maestro de duas orquestras rubro-negras distintas e gloriosas. Esta é a história do "Capacete", do "Vovô Garoto", do recordista absoluto de jogos com o Manto Sagrado.
O "Capacete": A Explosão do Melhor Lateral do Mundo
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Cria da Gávea, Júnior surgiu no time profissional no início dos anos 70. Com sua icônica cabeleira black power, que lhe rendeu o apelido de "Capacete", ele rapidamente se firmou como o dono da lateral-esquerda. Mas Júnior não era um lateral comum. Ele era um jogador completo: defendia com vigor, tinha um fôlego impressionante que lhe permitia atacar o tempo todo e possuía uma técnica refinada para cruzar, passar e até marcar gols.
Ele foi um dos pilares da Geração de Ouro. Ao lado de Zico e Leandro, formou a espinha dorsal do time que venceu tudo entre 1978 e 1983, incluindo a Libertadores e o Mundial de 1981. Sua performance era tão espetacular que o levou à titularidade absoluta na lendária Seleção Brasileira da Copa de 1982, onde encantou o mundo com seu futebol e o icônico gol com dancinha contra a Argentina.
O Rei de Turim: A Conquista da Itália
Em 1984, no auge, Júnior se transferiu para o futebol italiano, a liga mais forte do mundo na época. No Torino, ele se tornou um ídolo instantâneo. Deslocado para o meio-campo, virou o maestro do time e foi eleito o melhor jogador do Campeonato Italiano em 1985, um feito extraordinário. Sua passagem pela Itália, que também incluiu uma temporada no Pescara, consolidou sua reputação como um dos jogadores mais inteligentes e versáteis de sua geração.
O Retorno do Maestro: Como o "Vovô Garoto" Conquistou o Brasil de Novo
Em 1989, aos 35 anos, Júnior decidiu voltar para casa. Muitos pensaram que era o fim de sua carreira, que ele vinha apenas para se aposentar. Estavam redondamente enganados. Ele não voltou como o antigo lateral, mas como o experiente e genial maestro do meio-campo. Com a vitalidade de um garoto e a sabedoria de um veterano, ganhou o apelido perfeito: "Vovô Garoto".
Sua segunda passagem foi coroada em 1992. Aos 38 anos, Júnior foi o líder técnico e anímico de um time jovem que conquistou o Campeonato Brasileiro de forma brilhante. Ele foi eleito o craque da competição, em uma das performances individuais mais dominantes e inspiradoras da história do futebol nacional. Ele não apenas jogava; ele ensinava, comandava e personificava o espírito do Flamengo em campo.
O Dono do Manto: Um Legado de Amor e Recordes
Júnior se aposentou dos gramados em 1993, mas sua história com o esporte e com o Flamengo estava longe de acabar. Ele se tornou um lendário jogador de Beach Soccer, onde foi multicampeão mundial pela Seleção, e um dos mais respeitados comentaristas de futebol da televisão brasileira.
Seu legado no Flamengo é imensurável. Ele é, até hoje, o jogador com mais partidas na história do clube, com impressionantes 876 jogos. Mais do que os títulos e os recordes, Júnior representa o "ser Flamengo": a paixão, a liderança, a classe e a certeza de que a idade é apenas um número quando o talento e o amor por um clube são eternos.