3 a 0: O Dia em que o Flamengo Ensinou o Liverpool a Jogar Bola

 Existem jogos que valem um troféu. E existem jogos que definem uma geração, que ecoam pela eternidade e se transformam em lenda. A final da Copa Intercontinental de 1981, em Tóquio, foi um desses momentos. De um lado, o Liverpool, a máquina inglesa, soberano absoluto da Europa, um time temido e reverenciado. Do outro, o Flamengo de Zico, campeão da América na raça e no talento, mas ainda visto com certa desconfiança pela elite europeia. O que se viu naqueles 90 minutos, no entanto, não foi uma disputa equilibrada. Foi uma aula. Uma sinfonia rubro-negra que, ao som de 3 a 0, calou a Europa e mostrou ao planeta como se joga o verdadeiro futebol.

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O Gigante Inglês e o Suposto Desdém Europeu

Para entender a dimensão do feito, é preciso conhecer o adversário. O Liverpool do técnico Bob Paisley era uma dinastia. Tricampeão da Copa dos Campeões da Europa (a atual Champions League), o time contava com uma constelação de estrelas da seleção inglesa e escocesa: o goleiro Ray Clemence, o capitão Phil Thompson, o implacável volante Graeme Souness e o genial atacante Kenny Dalglish. Eram os donos da Europa, acostumados a vitórias e com uma autoconfiança que, segundo relatos da época, beirava a arrogância.

A imprensa inglesa e os próprios jogadores do Liverpool teriam tratado a final como um mero protocolo. Para eles, o time brasileiro, sul-americano, era tecnicamente inferior e seria facilmente superado pela força e organização tática europeia. Eles não estudaram o Flamengo. Mal sabiam que estavam prestes a enfrentar um dos melhores times já montados na história do esporte, comandado por um gênio em seu auge.

A Sinfonia de 45 Minutos: O Show Vermelho e Preto

O técnico Paulo César Carpegiani armou uma estratégia perfeita: marcar forte os articuladores Souness e Dalglish e explorar a velocidade de Lico e Tita nas costas da lenta defesa inglesa. E o plano se executou com uma perfeição assustadora no primeiro tempo.

Aos 12 minutos, o primeiro golpe. Zico, com a bola dominada no meio-campo, ergue a cabeça e executa um lançamento que é pura poesia. A bola viaja mais de 40 metros, em uma curva perfeita que parece teleguiada, e cai nos pés de Nunes. O Artilheiro das Decisões, com a frieza que o consagrou, toca na saída do goleiro e abre o placar. 1 a 0. O espanto era visível no rosto dos ingleses.

O Flamengo não recuou. Pelo contrário. O time controlava o jogo com um toque de bola envolvente, deixando o Liverpool a correr atrás da sombra. Aos 34 minutos, o segundo golpe. Falta para o Flamengo na entrada da área. A barreira sabia o que vinha, mas não havia o que fazer. Zico bate com maestria, a bola explode no poste e, no rebote, Adílio, o motor do time, aparece como um raio para empurrar para as redes. 2 a 0.

O nocaute veio antes do intervalo. Aos 41 minutos, a jogada final. Zico, novamente ele, recebe na intermediária e enfia outra bola espetacular para Nunes. O camisa 9 invade a área, dribla o goleiro com uma facilidade desconcertante e toca para o gol vazio. 3 a 0. Em apenas 45 minutos, o campeão europeu estava de joelhos, completamente aniquilado.

"Olé": Administrando a Glória e o Legado Eterno

O segundo tempo foi um pró-forma. O Liverpool, atordoado, tentou uma reação desordenada, mas esbarrou em um time sereno e absurdamente superior. O Flamengo trocava passes com tranquilidade, administrava a vantagem e, simbolicamente, ouvia os "olés" que vinham da alma de sua Nação. Foi a confirmação da superioridade técnica, tática e mental.

O apito final foi a coroação de uma jornada perfeita. O Flamengo não era apenas campeão mundial; ele havia vencido de forma categórica, com uma atuação de gala que entrou para a história como uma das mais belas em uma final. Aquele 13 de dezembro de 1981 é o dia mais importante da nossa história. É o dia em que o Manto Sagrado Vermelho e Preto foi hasteado no topo do mundo, para nunca mais ser esquecido.

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