Em um time de artistas e maestros, toda orquestra precisa de seu solista finalizador. O homem do último toque, da explosão, do gol. Para a Geração de Ouro do Flamengo, esse homem era João Batista de Salles, mas para a Nação Rubro-Negra, ele tinha um nome que era uma sentença: Nunes, o Artilheiro das Decisões. Longe de ser o atacante mais técnico ou plástico, Nunes possuía uma característica rara e mística: uma predestinação para marcar nos jogos mais importantes. Ele era o amuleto, o talismã, o matador que vivia para os momentos de pressão máxima. Esta é a história do centroavante cujos gols estão eternamente gravados nos troféus mais cobiçados da história do Flamengo.
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A Anatomia de um Predador: O Centroavante "Raiz"
Nunes era um centroavante "raiz". Não espere dele dribles desconcertantes ou jogadas de efeito. Sua genialidade estava na simplicidade e na eficiência mortal. Forte, brigador e com um senso de posicionamento extraordinário, ele era um tormento para os zagueiros. Sabia usar o corpo como poucos para proteger a bola, o que lhe rendeu o apelido de "O Pênalti", pela quantidade de faltas que sofria dentro da área. Seu negócio era um só: colocar a bola para dentro do gol, especialmente quando tudo estava em jogo.
A Galeria Imortal: Os Gols que Valeram Títulos
O apelido "Artilheiro das Decisões" não é uma hipérbole; é um fato histórico. A carreira de Nunes no Flamengo é definida por seus gols em finais.
Brasileirão 1980: O Primeiro Grito de Campeão Na grande final contra o Atlético-MG, no Maracanã, o Flamengo precisava da vitória. E Nunes foi o herói da conquista. Ele marcou dois dos três gols na vitória por 3 a 2 que deu ao Flamengo seu primeiro título de Campeonato Brasileiro.
Mundial 1981: A Coroação em Tóquio Seu maior momento. Na partida mais importante da história do clube, contra o poderoso Liverpool, Nunes foi o executor. Ele marcou dois gols na vitória inesquecível por 3 a 0. O primeiro, recebendo um passe mágico de Zico e tocando com frieza na saída do goleiro. O segundo, driblando o arqueiro inglês para fechar o caixão e sacramentar a conquista do mundo.
Brasileirão 1982: O Golpe de Misericórdia no Olímpico Na final contra o Grêmio, após dois empates, a decisão foi para o terceiro jogo em Porto Alegre. Em um jogo tenso, foi de Nunes o único gol da partida, garantindo o bicampeonato brasileiro para o Flamengo em pleno estádio do adversário.
Um Legado de Momentos Decisivos
A passagem de Nunes pelo Flamengo pode não ter sido a mais longa, mas foi, sem dúvida, uma das mais impactantes. Ele não é lembrado pela quantidade de gols, mas pela importância deles. Nunes personifica o "jogador de final", o atleta de personalidade gigante que não se esconde nos momentos de maior pressão. Enquanto Zico era o gênio que criava a jogada, Nunes era o predestinado que a concluía. Seu nome não está apenas na lista de ídolos do clube; está gravado a fogo nas estrelas douradas que o Flamengo ostenta com orgulho em seu peito.