Dossiê Ídolos em Xeque (2/10): Tita, o Príncipe que traiu o Manto, Não Quis Esperar pelo Trono

 Na corte da Geração de Ouro, Zico era o Rei absoluto. Mas todo reino tem seus príncipes, talentos brilhantes destinados à grandeza. Milton Queiroz da Paixão, o Tita, era um desses príncipes. Cria da Gávea, ele era um meia-atacante de técnica refinada, inteligência rara e faro de gol, uma joia que participou de todas as maiores glórias do clube. No entanto, a ambição de ser mais do que um coadjuvante de luxo e a impossibilidade de ocupar o trono de Zico criaram uma inquietação que o levou para longe da Gávea e, eventualmente, para o outro lado da rivalidade, onde suas comemorações sarcásticas deixaram uma marca de mágoa na Nação.

O Príncipe da Geração de Ouro



Tita foi um dos talentos mais espetaculares revelados pelo Ninho. Polivalente, atuava como ponta, meia ou segundo atacante com a mesma genialidade. Foi peça fundamental no time campeão do Mundo em 1981, sendo titular em diversas partidas daquela campanha e entrando na grande final em Tóquio. Sua qualidade era inquestionável, e ele era amado pela torcida como um dos grandes heróis daquela era.

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A Sombra do Rei: O Dilema de ser o Sucessor de Zico

O grande dilema da carreira de Tita no Flamengo era um homem: Zico. Tita não queria ser apenas mais um no time das estrelas; ele ansiava pelo protagonismo, pela camisa 10, pelo status de maestro da equipe. O problema era que essa posição no Flamengo não estava, e nem estaria por muito tempo, vaga. A presença de Zico, o maior ídolo da história do clube, tornava impossível a ascensão de qualquer outro jogador a esse posto. Cansado de viver à sombra do Rei e com a ambição legítima de buscar seu próprio reinado, Tita decidiu que precisava deixar o Flamengo para ter o protagonismo que seu talento merecia.

De Herói a Carrasco Sarcástico

Após deixar a Gávea, Tita rodou pelo futebol e encontrou grande sucesso, especialmente no Grêmio e, para a dor da Nação, no arquirrival Vasco da Gama. E foi vestindo a camisa dos adversários que sua relação com a torcida do Flamengo se quebrou.

Tita não era apenas um profissional que cumpria seu dever. Nos confrontos contra o ex-clube, ele jogava com uma motivação extra, quase raivosa. Seus gols contra o Flamengo não eram apenas comemorados; eram celebrados com um sarcasmo visível, com uma satisfação que parecia dizer "vejam o que vocês perderam". Para a Nação, que o tinha como um herói do Mundial, ver aquela atitude de um "filho da casa" era doloroso e foi interpretado como um profundo desrespeito.

O legado de Tita é o do talento que não soube esperar. Um campeão do mundo inquestionável, mas cuja ambição o transformou em um carrasco que sentia um prazer especial em ferir o clube que o formou, deixando uma cicatriz de mágoa que ofuscou parte do brilho de sua estrela na nossa história.

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