Camisa 10, craque da Seleção Brasileira Sub-17, campeão da Copinha e uma habilidade com a bola que fazia o Maracanã sonhar. No início da década de 2010, o Ninho do Urubu parecia ter encontrado, finalmente, um herdeiro para o trono de Zico. Seu nome era Adryan Oliveira Tavares. O hype sobre ele não era apenas grande; era colossal. Mas a mesma expectativa que o elevou ao status de fenômeno na base se tornou uma sombra pesada em sua carreira profissional. Esta é a melancólica história de Adryan, a promessa que não se cumpriu, não por falta de talento, mas talvez pelo excesso de peso em seus ombros.
A Coroa Antes do Reinado: O Fenômeno da Base
Adryan era o príncipe da vitoriosa geração da Copa São Paulo de 2011. Se Negueba era a explosão e a irreverência, Adryan era a classe e o cérebro. Um camisa 10 clássico, com um passe refinado, visão de jogo e uma cobrança de falta que, inevitavelmente, o fez ser comparado ao Galinho. O rótulo de "Novo Zico" foi estampado em sua testa pela imprensa e pela torcida antes mesmo de ele se firmar no time de cima.
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Seu status de futura estrela foi amplificado por suas atuações espetaculares com a camisa da Seleção Brasileira Sub-17, onde foi o grande destaque no Mundial da categoria em 2011. Para o mundo, o Flamengo tinha em mãos uma das maiores promessas do futebol mundial.
O Peso da Camisa 10: Os Desafios no Time Profissional
Promovido ao elenco principal com enorme fanfarra, Adryan até mostrou lampejos de sua genialidade, marcando belos gols e dando assistências. No entanto, a transição para o futebol profissional se mostrou um desafio. O jogo, mais rápido e infinitamente mais físico, parecia engolir sua técnica. A intensidade da marcação não lhe dava o tempo e o espaço que ele tinha na base para pensar e executar. Cada erro era superdimensionado, cada atuação discreta era vista como uma decepção, sempre sob a ótica da comparação com o maior ídolo da nossa história.
A Dura Lição Europeia: De Cagliari a Leeds
Buscando amadurecimento, o Flamengo emprestou Adryan para uma série de clubes na Europa. A experiência, no entanto, foi dura. Na Itália, pelo Cagliari, teve bons momentos, mas pecou pela irregularidade. A passagem mais marcante foi na Inglaterra, pelo Leeds United. No futebol físico e aguerrido da segunda divisão inglesa, ele sofreu. Foi duramente criticado pela torcida por uma suposta falta de combatividade e por simulações, o que manchou sua reputação no continente. Passagens por Nantes (França) e Sion (Suíça) se seguiram, mas Adryan nunca conseguiu se firmar como o craque que se esperava.
Análise: Os Fatores por Trás da Promessa Incompleta
Analisar por que um talento tão puro não explodiu é complexo, mas alguns fatores são evidentes:
O Fardo da Comparação: O rótulo de "Novo Zico" criou uma pressão desumana e irrealista sobre um adolescente.
A Questão Física: Sua dificuldade em se adaptar à maior intensidade e força do futebol profissional foi um obstáculo constante.
A Consistência Mental: A luta para corresponder a uma expectativa tão alta pode ter minado a confiança, essencial para um jogador de criação.
Após rodar o mundo, Adryan voltou ao Brasil para jogar no Avaí e seguiu sua carreira. Sua história é a maior lição sobre os perigos do hype prematuro. Para a Nação, fica a lembrança de alguns golaços e a melancolia de um talento extraordinário, um príncipe que, talvez, nunca tenha tido a chance de construir seu próprio reinado, ocupado demais com o peso da coroa de um Rei.