Em 2009, o Flamengo começou o ano sem rumo e o Campeonato Brasileiro flertando perigosamente com a zona de rebaixamento. Nada, absolutamente nada, indicava um final feliz. Mas o futebol, às vezes, ignora a lógica e escreve roteiros que nem o mais otimista dos torcedores poderia imaginar. E com a força de um Imperador reencontrado, a magia de um gênio sérvio desacreditado e a alma de um ídolo no banco, o improvável aconteceu. Esta é a saga completa do Hexacampeonato Brasileiro, a história da arrancada mais emocionante e passional da nossa história recente.
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Do Risco do Abismo à Mão Firme de Andrade
O primeiro turno do Flamengo no Brasileirão de 2009 foi um pesadelo. Com o técnico Cuca, o time não engrenava, acumulava resultados ruins e chegou a ocupar a 14ª posição. A Nação, frustrada, via o ano se encaminhar para um melancólico fim. A virada de chave veio com uma solução caseira: Andrade, ídolo da Geração de Ouro e prata da casa, assumiu o comando. Com sua calma, simplicidade e conhecimento do clube, ele arrumou o vestiário, deu confiança aos jogadores e transformou um time despedaçado em uma família.
O Império do Amor e a Magia de Pet: A Dupla que Carregou o Time
A reação do time em campo foi liderada por dois heróis com histórias de redenção:
Adriano, o Imperador: Ele havia voltado ao Flamengo para "ser feliz" e encontrou sua melhor forma. Foi o artilheiro do campeonato com 19 gols, o líder emocional, o ídolo que representava a força do povo em campo.
Dejan Petković: Aos 37 anos, o "Pet" voltou ao clube sob enorme desconfiança. E deu um show. Foi o cérebro do time, o maestro das bolas paradas, marcando gols antológicos, como o inesquecível gol olímpico contra o Palmeiras.
A sintonia entre a força de Adriano e a genialidade de Petković foi a fórmula mágica que transformou o time em uma máquina de vencer.
A Arrancada: Uma Sequência de Finais no Maracanã
No segundo turno, o Flamengo foi avassalador. O time engatou uma sequência de 17 jogos com apenas uma derrota. O Maracanã se tornou um caldeirão, e a Nação abraçou a equipe em uma simbiose perfeita. Jogos como a vitória por 3 a 1 sobre o Atlético-MG e o triunfo por 2 a 0 sobre o Corinthians na penúltima rodada, que nos deu a liderança pela primeira vez, entraram para a história. O time, que lutava contra o rebaixamento, agora dependia apenas de si para ser campeão.
O Gol do Título: A Cabeçada Imortal de Angelim
A última rodada, no dia 6 de dezembro de 2009, foi um teste para o coração. O Maracanã, com mais de 78 mil pessoas, estava tenso. O Flamengo precisava vencer o Grêmio para garantir a taça. O drama aumentou quando os gaúchos abriram o placar. O silêncio tomou conta do estádio. Mas aquele time tinha alma. David Braz empatou, mas o gol do título, o gol do Hexa, estava reservado para outro herói improvável.
Aos 25 minutos do segundo tempo, Petković cobrou um escanteio na cabeça do zagueiro Ronaldo Angelim. O "Magro de Aço", o guerreiro silencioso, subiu mais que todos e testou para o fundo da rede. A explosão do Maracanã foi uma das mais genuínas e emocionantes de sua história. Após 17 anos, o Flamengo era, mais uma vez, campeão brasileiro.
Aquele não foi um título de planejamento, foi um título de paixão. A prova de que, com o Manto Sagrado, a força da Nação e o talento dos predestinados, tudo é possível.