Todo time de artistas precisa de um guerreiro. Toda orquestra genial precisa de uma muralha que a proteja. Para o Flamengo mágico e técnico dos anos 80, essa muralha tinha nome, sobrenome e uma presença que impunha respeito em qualquer atacante: José Carlos Nepomuceno Mozer. Com uma força física impressionante, um tempo de bola soberano e um jogo aéreo que beirava a perfeição, Mozer foi o xerife, o pilar defensivo que deu a tranquilidade e a segurança para que Zico e companhia pudessem brilhar. Esta é a história do zagueiro forjado na Gávea que se tornou um dos maiores da nossa história, conquistou a América e o Mundo, e depois foi brilhar e se tornar ídolo também na Europa.
Da Gávea para o Mundo: A Ascensão de um Xerife
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Assim como a maioria dos heróis daquela geração, Mozer é um autêntico "Cria da Gávea". Ele subiu das categorias de base e, com sua qualidade e personalidade forte, conquistou a titularidade no início da década de 80, assumindo o posto que antes era do "Deus da Raça" Rondinelli. A transição foi natural, e Mozer rapidamente se firmou como um dos melhores defensores do país. Ele era o complemento perfeito para seus parceiros de zaga, como Marinho e, posteriormente, Aldair: a força bruta aliada à técnica.
A Fortaleza da Geração de Ouro
Mozer era a definição de um zagueiro dominante. Suas principais virtudes eram:
Jogo Aéreo Impecável: Com uma impulsão extraordinária, ele era praticamente imbatível pelo alto. Ganhava quase todas as disputas, tanto para defender sua área quanto para subir e marcar gols decisivos de cabeça no ataque.
Força e Imposição Física: Era um zagueiro que não perdia divididas. Sua força e seu estilo aguerrido intimidavam os adversários e garantiam a solidez do sistema defensivo.
Liderança Natural: Com sua postura séria e sua voz de comando, ele era o "xerife" que organizava a linha de defesa e inspirava segurança em todo o time.
Foi com ele como pilar que o Flamengo conquistou seus maiores títulos, incluindo a Libertadores e o Mundial de 1981, e os Campeonatos Brasileiros de 1982, 1983 e a Copa União de 1987.
O Ídolo de Portugal e da França: A Conquista da Europa
Após vencer tudo pelo Flamengo, Mozer provou sua qualidade no mais alto nível do futebol mundial. Em 1987, transferiu-se para o Benfica, de Portugal, e rapidamente se tornou um ídolo absoluto. Liderou o clube português a dois títulos nacionais e, impressionantemente, a duas finais da Taça dos Campeões da Europa (a atual Champions League), em 1988 e 1990.
Sua saga europeia continuou no poderoso Olympique de Marseille, da França, no início dos anos 90. Em um time recheado de estrelas, Mozer foi novamente o pilar defensivo, conquistando três campeonatos franceses consecutivos e chegando a mais uma final da Taça dos Campeões, em 1991. Ter disputado três finais do principal torneio de clubes do mundo por duas equipes diferentes solidificou seu status como um dos maiores zagueiros de sua geração em escala global.
Um Legado de Força e Soberania
Depois de uma passagem pelo Japão, onde reencontrou Zico no Kashima Antlers, Mozer encerrou sua carreira. Seu legado no Flamengo é o do defensor perfeito para um time de gênios. Ele era a segurança, a força, a garantia de que, enquanto o ataque encantava, a defesa era uma fortaleza intransponível. Mozer não foi apenas um zagueiro; foi a muralha sobre a qual o Flamengo construiu seu império mais glorioso.