Existem títulos que são ganhos. E existem títulos que são conquistados na bola, na lei e na história, contra tudo e todos. O Campeonato Brasileiro de 1987, a lendária Copa União, pertence a este segundo grupo. Foi o troféu que uniu em campo o fim da Geração de Ouro de Zico com o início de uma nova safra de craques liderada por Renato Gaúcho. Foi a taça erguida por um esquadrão que disputou e venceu o campeonato mais forte e relevante daquele ano. E foi o título que, apesar de uma polêmica criada nos bastidores, para a Nação Rubro-Negra, nunca esteve em debate. Afinal, 87 é nosso.
O Caos no Calendário e a Criação da Copa União
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Em Busca do Bi Mundial: Com Reforços de Peso, Flamengo Encara Barça de Belletti e "Filho de Craque" por Título no MaracanãPara entender 1987, é preciso entender a crise que o futebol brasileiro vivia. Naquele ano, a CBF declarou não ter condições financeiras para organizar o Campeonato Brasileiro. Em uma atitude de vanguarda, os 13 maiores clubes do Brasil se uniram e criaram o "Clube dos 13", que tomou para si a responsabilidade de organizar o campeonato. Nascia assim a Copa União, dividida em módulos. O Módulo Verde era a elite, a primeira divisão de fato, reunindo as 16 maiores potências do país, como Flamengo, Internacional, Corinthians, Palmeiras, Grêmio, etc. O Módulo Amarelo era, na prática, uma segunda divisão.
Uma Constelação em Campo: A "SeleFla" de Zico e Renato Gaúcho
Para a disputa do campeonato que realmente importava, o Flamengo montou um time que entrou para a história como "SeleFla". Era uma verdadeira seleção, que mesclava a genialidade dos remanescentes de 81 com o talento de novas estrelas:
Os Ídolos de Ouro: Zico (o Rei, recém-chegado de volta da Itália), Leandro e Andrade.
Os Novos Protagonistas: Renato Gaúcho (no auge da forma e craque do campeonato), Bebeto e Zinho.
Outras Estrelas: O goleiro Zé Carlos, o experiente zagueiro Edinho e os jovens e brilhantes laterais Jorginho e Leonardo.
Em campo, era um time que jogava por música, com um poder de fogo impressionante.
A Campanha e a Grande Final: A Glória no Maracanã
O Flamengo dominou o Módulo Verde e chegou à grande final para enfrentar o Internacional, a outra grande força da competição. Foram dois jogos épicos. No primeiro, no Beira-Rio, um empate em 1 a 1, com gol de Bebeto. A decisão ficou para um Maracanã com mais de 90 mil pessoas. Em um jogo tenso, o gol do título saiu no início do primeiro tempo: Zico deu um passe magistral para Bebeto, que tocou com categoria na saída do goleiro Taffarel. O 1 a 0 no placar deu ao Flamengo o título da Copa União, o troféu do campeonato que reunia a elite do Brasil.
A Polêmica do "Cruzamento": Por que 87 é do Flamengo?
Aqui nasce a polêmica. A CBF, que havia "lavado as mãos" para o campeonato, ao ver o sucesso da Copa União, tentou reassumir o controle e impôs, com o torneio já em andamento, uma regra de "cruzamento": os campeões e vices dos Módulos Verde e Amarelo deveriam disputar um quadrangular final.
No entanto, o regulamento original assinado pelos 13 clubes do Clube dos 13, incluindo o presidente da CBF na época, era claro: o campeão do Módulo Verde seria o campeão brasileiro, sem a necessidade de cruzamentos. Baseados neste acordo, Flamengo e Internacional, campeão e vice do torneio principal, se recusaram a participar do quadrangular, que não tinha validade legal ou moral. Com a ausência dos finalistas de fato, a CBF, anos depois, viria a homologar o Sport (campeão do Módulo Amarelo) como o outro campeão daquele ano.
Para o Flamengo, para os jogadores, para a imprensa da época e para a história do futebol jogado, a questão é simples: o campeão de 1987 foi decidido em campo, entre os melhores e maiores times do país. E o time que levantou a taça foi o Clube de Regatas do Flamengo.