Flamengo: A Saga Completa de Zico, O Rei do Maracanã de Quintino ao Trono do Mundo

 Existem craques, ídolos e lendas. E acima de todos, no panteão rubro-negro, existe um Rei. Falar de Arthur Antunes Coimbra, o Zico, é falar da própria alma do Flamengo. Ele não foi apenas um jogador que vestiu o Manto Sagrado; ele foi o torcedor em campo, o gênio que transformou a paixão da arquibancada na mais pura arte sobre o gramado. Sua história é uma epopeia de superação, genialidade e glórias que transcendeu o esporte. Da quase perda para um rival ao topo do mundo no Japão, esta é a saga completa do homem que nos ensinou a sonhar e nos fez os maiores do planeta.

O Galinho de Quintino: O Tesouro que Quase Perdemos




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A jornada do Rei começou no subúrbio de Quintino. Arthur era o caçula de uma família apaixonada por futebol e cujo coração era dividido entre o Flamengo e o América-RJ, onde seus irmãos mais velhos jogaram. Seu talento era tão evidente que, aos 14 anos, foi levado pelo radialista Celso Garcia para um teste no América. O Galinho treinou, agradou e estava prestes a assinar com o clube alvirrubro. Foi aí que o destino e a paixão rubro-negra falaram mais alto.

O jornalista do Flamengo, Fausto Netto, ao saber que a joia de Quintino poderia escapar, agiu rápido. Ele convenceu a diretoria do Flamengo a ir até a casa da família Antunes e fazer uma proposta. Diante do apelo do clube do seu coração, Zico não hesitou. O Flamengo acabava de assegurar o maior tesouro de sua história.

Ainda havia, no entanto, um obstáculo: seu físico franzino. Zico era magro, e muitos duvidavam que elepudesse se tornar um atleta profissional. Mas o Flamengo apostou, criando um trabalho pioneiro e intensivo de fortalecimento muscular e nutricional com o preparador físico José Roberto Francalacci. Com uma disciplina e força de vontade admiráveis, o Galinho ganhou corpo e força, sem jamais perder a agilidade e a técnica. A superação forjou o caráter de um Rei.

O Maestro do Brasil: Uma Coleção de Títulos e Artilharias

Após estrear no profissional em 1971, Zico gradualmente se tornou o dono do time. Com a camisa 10, ele era a síntese do jogador perfeito: visão de jogo, passes milimétricos, dribles curtos e uma finalização letal. Sua cobrança de falta virou uma marca registrada, uma obra de arte. Ele não era apenas o maestro; ele era o artilheiro.

Sua fome de gols era insaciável, um predador dentro e fora da área. Zico foi artilheiro do Campeonato Carioca 5 vezes e se sagrou artilheiro do Campeonato Brasileiro em duas oportunidades (1980 e 1982).

Sob seu comando, o Flamengo alcançou a hegemonia nacional, conquistando os Campeonatos Brasileiros de 1980, 1982, 1983 e a inesquecível Copa União de 1987. Antes mesmo de conquistar o mundo, Zico já liderava o Flamengo em excursões vitoriosas pela Europa, conquistando torneios de imenso prestígio, como o Troféu Ramón de Carranza (1979 e 1980), batendo gigantes europeus e mostrando ao mundo o que estava por vir.

1981: O Ano em que Zico Pintou o Mundo de Vermelho e Preto

Se Zico já era Rei no Brasil, em 1981 ele reclamou seu trono no mundo. Na Copa Libertadores, foi uma força da natureza. Com 11 gols, sagrou-se o artilheiro isolado da competição, liderando o time com genialidade e raça para superar a violência dos adversários, especialmente na épica final contra o Cobreloa.

A coroação definitiva veio em 13 de dezembro de 1981, em Tóquio. Na final da Copa Toyota (Mundial Interclubes), contra o poderoso Liverpool, Zico deu uma das maiores aulas de futebol já vistas. Os ingleses, com certo desdém, mal sabiam o que os esperava. Zico não marcou, mas foi o arquiteto de tudo. Com passes que rasgaram a defesa britânica, deixou Nunes na cara do gol duas vezes e iniciou a jogada do gol de Adílio. Foi eleito o melhor jogador em campo, humilhando os "donos do futebol". Naquele dia, o Flamengo era o maior time do planeta.

A Itália aos Seus Pés e o Respeito do Mundo

Em 1983, a modesta Udinese, da Itália, fez o impossível e levou Zico para a liga mais forte do mundo na época. A cidade de Udine o recebeu como um monarca, e ele retribuiu em campo. Mesmo em um time pequeno, Zico foi o vice-artilheiro do campeonato e fez história, sendo até hoje chamado de "Rei di Udine".

O resto do mundo se curvava ao seu talento. Michel Platini, gênio francês, disse: "Zico é o jogador cujos pés pensam". Diego Maradona o colocou em seu panteão pessoal de maiores da história. O próprio Pelé o considerava o sucessor que mais se aproximou de seu estilo de jogo. Sua genialidade era um consenso global. Pela Seleção, mesmo sem o título, encantou o planeta na Copa de 82 e mostrou sua garra ao se recuperar de uma lesão criminosa para jogar a Copa de 86.

Sensei: Como Zico Construiu o Futebol no Japão

Após sua primeira despedida do Flamengo, Zico aceitou um desafio impensável: ajudar a construir o futebol profissional no Japão. No Kashima Antlers, a partir de 1991, ele foi mais que um jogador; foi um professor, um "Sensei". Zico ensinou profissionalismo, técnica e paixão, tornando-se o pilar da recém-criada J-League. Sua influência foi tão profunda que ele é, até hoje, chamado no Japão de "Deus do Futebol" (サッカーの神様), com estátuas em sua homenagem.

O Legado Eterno: Mais que um Ídolo, um Patrimônio

Zico encerrou sua carreira, mas seu legado é infinito. Com 509 gols pelo Flamengo, ele é o maior artilheiro da nossa história e do Maracanã. Mas Zico é maior que os números. Ele é a prova de que um garoto franzino, que quase foi para um rival, pode se tornar o maior símbolo de uma Nação. Ele é a régua pela qual todos os outros craques da nossa história são medidos. Ele é, e para sempre será, o nosso eterno Rei.

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