Na imensa galeria de glórias do Flamengo, existem títulos conquistados com arte e outros forjados na guerra de nervos. A sequência de Campeonatos Cariocas de 2007, 2008 e 2009 pertence à segunda categoria. Não foi apenas a conquista do quinto tricampeonato estadual da nossa história; foi uma dinastia construída sobre os escombros da esperança do nosso rival, o Botafogo, em três finais consecutivas que entraram para o folclore. Foi a era que cimentou a fama do "chororô", transformando a rivalidade em uma doce (para nós) melodia de reclamações alvinegras.
2007: O Drama dos Pênaltis e a Cavadinha de Juan
A saga começou com emoção pura. Liderado pelo técnico Ney Franco e por nomes como Renato Abreu e Souza "Caveirão", o Flamengo chegou à final contra um forte Botafogo. O equilíbrio foi total: dois empates eletrizantes por 2 a 2. A decisão foi para os pênaltis. O goleiro Bruno começou a construir sua fama, mas a glória final coube ao zagueiro Juan, que, com uma frieza absurda, selou o título com uma "cavadinha" inesquecível. Do lado alvinegro, as reclamações sobre a arbitragem foram imediatas e intensas, plantando a semente do que viria a ser chamado de "chororô".
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2008: A Confirmação da Paternidade com Papai Joel
No ano seguinte, a final se repetiu, mas o roteiro foi diferente. Sob o comando do experiente e carismático Joel Santana, o Flamengo foi superior. Com a liderança do capitão Fábio Luciano na zaga e a força do meio-campo, o time venceu as duas partidas da final (1 a 0 e 3 a 1) e conquistou o bicampeonato com autoridade. A vitória de 2008 foi a consolidação da freguesia, um recado claro de quem mandava no Rio, enquanto o rival acumulava mais um vice.
2009: O Grand Finale, os Pênaltis... e a Explosão do "Chororô"
O destino, caprichoso, reservou o grand finale para 2009. Pela terceira vez seguida, Flamengo e Botafogo na decisão. E, de forma inacreditável, o roteiro de 2007 se repetiu: dois novos empates por 2 a 2. A decisão, mais uma vez, foi para os pênaltis. A tensão era palpável. E, mais uma vez, deu Flamengo.
O tricampeonato em cima do mesmo rival era um feito histórico. E foi a gota d'água para a explosão definitiva do "chororô". As reclamações alvinegras atingiram o ápice. Foi nesse cenário que o atacante Souza "Caveirão", herói daquela conquista, imortalizou a provocação. Ao vivo na TV, logo após o título, ele imitou o gesto de choro, dedicando-o ao rival e dando um rosto e uma voz à gozação que a Nação Rubro-Negra abraçaria para sempre. A torcida transformou o sentimento em música, e o canto do "chororô" virou hino obrigatório nos clássicos.
Aquela sequência de 2007, 2008 e 2009 não foi apenas sobre erguer três taças. Foi sobre construir uma hegemonia psicológica, sobre transformar a rivalidade em folclore e sobre dar à Nação uma das suas provocações mais saborosas e duradouras.